O projeto tem sido realizado com crianças da educação infantil provenientes de escolas dos municípios de São Gonçalo e Niterói. Nessas escolas podemos identificar três grupos de crianças:

O primeiro grupo é constituído por crianças que vivem em bairros cujas condições ambientais são precárias e vários desastres ambientais têm acontecido recentemente, sobretudo os relacionados aos fenômenos climáticos: transbordamento de rios que matam e desabrigam e desabamento de encostas. As características mais marcantes desses locais são a ausência de vegetação, rios transformados em valões de esgoto e a paisagem é marcada pelo lixo, depositado em vários pontos. Em geral as escolas onde estudam estão localizadas em locais com as mesmas características.

O segundo grupo é formado por crianças que vivem em bairros cujas condições ambientais não são tão precárias e a natureza consiste em umas poucas arvores nas ruas. Os quintais das casas são cimentados, impedindo o crescimento de qualquer vegetação. Em alguns há um pequeno jardim, mantido pela persistência de algum membro da família.

Os rios desses bairros foram canalizados e encobertos por concreto e sua existência é desconhecida pela maior parte das crianças.

O terceiro grupo vive em locais dotados de serviços e equipamentos urbanos e onde a natureza se apresenta através de projetos paisagísticos, que seguem as tendências do paisagismo e muitas vezes uma espécie pode ser colocada no jardim, em função do status que a mesma proporciona aos moradores. As escolas dessas crianças seguem essa modelo, sendo que muitas possuem “jardins” com flores artificiais.

Independente das características dos locais em que vivem as crianças não tem contacto com a natureza. No nosso entendimento este distanciamento pode ser responsável pela postura das crianças nos momentos iniciais do projeto: elas sentem medo, querem arrancar folhas e galhos e sobretudo perseguir formigas, grilos e qualquer outro bichinho que cruze seu caminho.

A estratégia de superação consiste em fazer com que as crianças, olhem ao redor, ouçam os vários sons e toquem. Pouco a pouco elas vão perdendo o medo, podendo vivenciar belas experiências diante de uma flor bem colorida, uma borboleta azul, uma folha bem grande ou um cacho de banana. Cantam, cumprimentam-se e cumprimentam as árvores, os passarinhos, os micos. Ouvem o canto dos pássaros, o barulho das arvores.

Essas experiências fazem com que fiquem mais receptivas para receberem as informações sobre o jardim e sua biodiversidade. Muito embora o jardim possa ser utilizado para várias informações nós utilizamos apenas com esta. Mostramos que o jardim abriga uma grande quantidade de plantas e animais: plantas pequenas e grandes, de várias cores e texturas e formigas, grilos, joaninhas, minhocas As crianças são incentivadas a olhar, tocar, acariciar, perceber texturas, distinguir tamanhos e cores São incentivadas a observar as teias das aranhas, as joaninhas, os grilos, as formigas... Elas saem a procura de novos moradores. A cada descoberta voltam-se para as tias: olha o que eu encontrei! Pode ser uma borboleta, um sapo ou até um grilo com as patinhas cor –de- rosa, encontrado por um menino, sobre uma flor de Maria Sem Vergonha e que causou um alvoroço total. São as experiências significativas de vida! Depois de mostrarmos ás crianças as plantinhas e os animais em seus habitats, falamos das necessidades desses seres:

Eles precisam de um local limpo para, poderem viver - O argumento que usamos é que ele é a casa de um monte de bichinhos plantinhas. Algumas vezes perguntamos às crianças se elas gostariam de encontrar a casa delas com um monte de lixo ou se gostariam de dormir em uma cama cheinha de lixo.

Eles precisam de água - fornecimento de água é feito por cada criança, em pequenos recipientes, de modo que não haja desperdício.

E também precisam de comida- A alimentação das plantinhas é feita com a colocação de adubo orgânico produzido no Gênesis. Todas as “ferramentas” utilizadas são feitas de reaproveitamento de embalagens. No decorrer da alimentação são lembrados outros cuidados necessários: não arrancar as folhas, não quebrar os galhos.

Nossa intenção é fazer com que o cuidado seja permanente. Para isso cada criança faz o plantio de uma muda para levar para a escola para formar um jardim.

Depoimentos de professores e pais atestam o cuidado com a plantinha. Muitas querem duas ou mais mudas. Uma experiência interessante foi um menino que pegou um matinho e fez uma mudinha, para “criar”

Nos momentos finais da atividade as crianças se “transformam” em uma plantinha ou em um bichinho. A intenção é fazer que elas se sintam parte daquele ecossistema e possam deseja ter intimidade com ele e outros ecossistemas