FRAGMENTOS URBANOS DE VEGETAÇÃO E ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: as contribuições do Centro Gênesis

Segundo o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) publicado em outubro de 2018 o aquecimento global de 1,50C é o limite para evitar alguns dos impactos provocados pelas mudanças climáticas (ONU BRASIL, 2019). Um desses impactos são as alterações exacerbadas no ciclo hidrológico, que tendem a acentuar os riscos existentes, tais como inundações, deslizamentos de terra, ondas de calor e limitações de fornecimento de água potável (PBM, 2016).

As soluções apontadas pressupõem a construção de cidades sustentáveis em que a emissão de gases seja minimizada e os efeitos, mitigados. Uma delas é o reforço da infraestrutura de distribuição e transmissão de energia; diversificação das fontes de energia, dando preferência às renováveis; eficiência do uso da água com técnicas de armazenamento de água e conservação, reutilização da água, dessalinização e aproveitamento de águas pluviais (PBM, 2016).

Outra solução é a, implantação, conservação e restauração ecológica de espaços verdes urbanos, termo que emergiu na última década e sua definição se encontra em discussão por diversos autores Cavalheiro e Del Picchia, Guzzo, Toledo e Santos entre outros (BARGOS & MATIAS, 2019). Mas seus benefícios e funções na integração com ambientes urbanos são amplamente conhecidos (MADUREIRA et al., 2015), sendo essas importantes porque contribuem para que as cidades adquiram resiliência no enfrentamento das mudanças climáticas como estratégias de adaptação e mitigação.

Assim assumimos a definição Segundo Oliveira (1996) apud Bargos & Matias (2019) as áreas verdes são áreas permeáveis, que também podem ser denominadas de áreas livres de construção, públicas ou não, com cobertura vegetal predominantemente arbórea ou arbustiva, excluindo-se as árvores no leito das vias públicas. Essas áreas apresentem funções potenciais, capazes de proporcionar um microclima distinto no meio urbano em relação à luminosidade, temperatura e outros parâmetros associados ao bem-estar humano (funções de lazer); com significado ecológico em termos de estabilidade geomorfológica e amenização da poluição e que suporte uma fauna urbana, principalmente aves, e fauna do solo (funções ecológicas); representando também elementos esteticamente marcantes na paisagem (função estética).

Segundo Liu & Li (2012), As florestas urbanas podem desempenhar um papel importante na mitigação dos impactos da mudança climática, reduzindo o CO2 atmosférico em áreas urbanas. A quantificação do armazenamento e sequestro de carbono pelas florestas urbanas é fundamental para a avaliação do papel real e potencial das florestas urbanas na redução do CO2 atmosférico.

Baseado nessas contribuições é que o Centro de Educação Ambiental Gênesis se juntou aos esforços mundiais de criação de estratégias de adaptação e mitigação às mudanças climáticas. A estratégia se constituiu na restauração ecológica de um fragmento florestal de Mata Atlântica no Colubande-SG, no qual a instituição está localizada.

RECUPERAÇÃO DE FRAGMENTOS FLORESTAIS URBANOS: De enfrentamento e mitigação das alterações climáticas

Figura 1: Localização do fragmento de mata Atlântica do Colubandê
Fonte: Google Earth (2018).

Figura 2: Delimitação do Fragmento de Mata Atlântico Urbano no Centro de Educação Ambiental Gênesis.
Fonte: Google Earth (2018).

Figura 3: Situação do local em 2003, início do processo.
Fonte: Google Earth (2018).

O processo de restauração do fragmento, implementado ao longo de 16 anos, contribuiu para a formação de uma área verde com cobertura vegetal predominantemente arbórea e arbustiva de espécies Nativas de Mata Atlântica.

Os mapas mostram a evolução da cobertura vegetal de forma significativa, sobretudo nos níveis mais altos se aproximando do topo do morro.

RECUPERAÇÃO DE FRAGMENTOS FLORESTAIS URBANOS: De enfrentamento e mitigação das alterações climáticas

Figura 4: Mostra a cobertura vegetal a partir do ano de 2003 até 2018 no fragmento urbano de Mata Atlântica de 40.000m2 no Centro de Educação Ambiental Gênesis.
Fonte: Google Earth (2018).

Figura 5: Mostra a cobertura vegetal a partir do ano de 2003 até 2018 no fragmento urbano de Mata Atlântica de 40.000m2 no Centro de Educação Ambiental Gênesis.
Fonte: Google Earth (2018).

Em relação às funções potenciais que uma área verde pode exercer, inicialmente podemos identificar:

a) A criação de microclima distinto do restante do ambiente urbano de São Gonçalo. A temperatura é mais amena, sendo possível se experimentar uma sensação de bem estar nos dias de maior temperatura na cidade.

b) A amenização da poluição, que pode ser identificada através de bioindicadores, como a presença de líquens nas árvores.

c) Criação de suporte para uma fauna urbana, principalmente aves, e fauna do solo

Em relação à redução do CO2 atmosférico em áreas urbanas, não há estudos sobre a quantificação do armazenamento e sequestro de carbono no local, sendo necessário pesquisas nesse sentido.

RECUPERAÇÃO DE FRAGMENTOS FLORESTAIS URBANOS: De enfrentamento e mitigação das alterações climáticas

CONCLUSÃO
Os resultados mostraram que a restauração ecológica, preservação e conservação dos fragmentos florestais urbanos pode contribuir para a construção de cidades mais sustentáveis, podendo ser uma estratégia de adaptação e mitigação as mudanças climáticas, devido ao seu potencial de armazenar e sequestrar o CO2 atmosférico, regular a temperatura, purificar o ar ser um refugio para a flora urbana, principalmente no local onde se establece contribuindo para a diminuição das vulnerabilidade da comunidade próxima. Nossa sugestão é que as cidades identifiquem seus fragmentos e os restaure em parcerias com instituições de ensino.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARTAXO, P. Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno?. Revista USP, (103), 13-24. 2014.

BARGOS, D. C.; MATIAS, L. F. Áreas verdes urbanas: um estudo de revisão e proposta conceitual. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, v. 6, n. 3, p. 172-188, 2019.

LIU, C.; LI, X. Carbon storage and sequestration by urban forests in Shenyang, China. Urban Forestry & Urban Greening, v. 11, n. 2, p. 121-128, 2012.

MARQUES, W. R. Interpretação de Imagens de Satélites em Estudos Ambientais Interpretation of Satellites Images in Environmental Studies. Ambiência, v. 2, n. 2, p. 281-299, 2009.

MADUREIRA, H.; NUNES, F.; OLIVEIRA, J. V.; CORMIER, L.; MADUREIRA, T. Urban residents’ beliefs concerning green space benefits in four cities in France and Portugal. Urban Forestry & Urban Greening, v. 14, n. 1, p. 56-64, 2015.

PBMC: Mudanças Climáticas e Cidades. Relatório Especial do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas [Ribeiro, S.K., Santos, A.S. (Eds.)]. PBMC, COPPE – UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil. 116p. 2016.

ONUBRASIL (Organização das Nações Unidas Brasil). A ONU e a mudança climática. Disponível em: https://nacoesunidas.org. Acesso em: 20 de agosto de 2019.

UNIRIC (Centro Regional de Informação das Nações Unidas). Relatório da ONU mostra população mundial cada vez mais urbanizada, mais de metade vive em zonas urbanizadas ao que se podem juntar 2,5 mil milhões em 2050. Disponível em: https://www.unric.org. Acesso em: 16 de agosto de 2019.